domingo, março 19, 2006

Era uma vez... a tradução intralinguística


O árduo ofício da Tradução não se equaciona somente em termos de oposição/conciliação entre duas línguas estrangeiras. Pode traduzir-se também no seio da própria língua.
O Expresso irá lançar no dia1 de Abril (não é mentira, asseguro-vos!) uma colecção dedicada a 12 Reis de Portugal (dos quais, a Rainha D. Maria II) que terá nas crianças (até aos 9 anos) o seu público-alvo. Esta colecção - com a chancela da Editora Zero a Oito - intitula-se "Era uma vez um rei..." e pretende familiarizar os mais pequenos com os factos importantes que marcaram os reinados destes 12 monarcas eleitos pelo Expresso.
A saber:
1 - D. Afonso Henriques
2 - D. Dinis
3 - D. Pedro I
4 - D. João I
5 - D. João II
6 - D. Manuel I
7 - D. Sebastião
8 - D. João IV
9 - D. José
10 - D. Pedro IV
11 - D. Maria II
12 - D. Carlos I
O aspecto mais interessante desta iniciativa, para além do óbvio valor pedagógico e didáctico, prende-se com a necessidade de traduzir a complexa linguagem da História para a língua que falam as crianças. O exercício de traduzir dentro da própria língua, na qual convivem múltiplas linguagens específicas, é particularmente difícil.
Neste caso concreto da tradução para linguagem infantil, será tanto mais complexo quanto maior o distanciamento etário entre quem “traduz” e os destinatários da mensagem. Há todo um universo de códigos, de referências e de estilo próprio das crianças, no qual "adulto não entra"!
Com vista a assegurar o rigor científico, a Associação de Professores de História (APH) encarregou-se de supervisonar esta colecção. Segundo Helena Veríssimo, presidente da APH, “é perfeitamente possível conciliar o rigor histórico com uma linguagem mais acessível para as crianças.” (Revista Única de 04/03)
Os textos são da autoria de Ana Oom e as ilustrações de André Letria. Nas palavras da autora:
“Não é fácil pôr a História de Portugal em linguagem para crianças, até porque estas desconhecem palavras como “aio” ou expressões como “armar-se cavaleiro”. No entanto, o uso de tais termos é inevitável.”
Creio que será uma boa sugestão tanto para os miúdos, como para os graúdos que se interessam pelos labirintos da tradução intralinguística!